Desenhos Vazios, 2006
80 (28x30) cm
Tinta da China s/ papel
Numa aparente mudança de temática, Cláudia Amandi preserva nesta série o gradual sentido de abstração da forma, repetida numa quantidade indeterminada de desenhos, portanto, tendendo a um horizonte indefinido. Persiste também nesta série a ideia de uma marca que se multiplica em variações de adensamento e rarefação, formando paisagens de uma escala distante à perceção comum. Porém, o aspeto mais relevante deste trabalho relaciona-se com o processo de execução caracterizado pela repetição exaustiva de pequenos traços verticais funcionando como pontos, num movimento sem finalidade declarada. Esses traços foram desenhados com um marcador grosso, fixando marcas de um preto sintético e opaco. Adivinha-se um processo de esvaziamento ritual da consciência, entregue à acumulação de marcas numa superfície, como se a tarefa de inscrever o próprio tempo corresponde-se à substituição da consciência por um espaço rarefeito de referências, palavras e pensamentos. A abstração toma conta do processo, mas o conjunto de marcas em cada desenho e a organização dos desenhos na parede evoca paisagens sem escala, pelas variações de densidade da mancha realizando um efeito de expansão e profundidade. O formato longo e horizontal de cada desenho sublinha o carácter panorâmico das imagens.
Porém, se a série “Desenhos Vazios” configura uma espacialidade atmosférica e convidativa a uma observação pausada, pressente-se um processo que retoma o tema da execução em transe mental, como desdobramento deliberado da consciência para lá de uma fronteira da memória e da identidade, produzindo um movimento para o exterior. Tal como em inúmeros trabalhos anteriores, o elemento visual e a partícula acumula-se como imagem de momentos, segundos, instantes percutidos na superfície do tempo contra um fundo branco, gerando imagens no mesmo movimento que parece apagá-las em sucessivas camadas até um clarão branco.
Empty Drawings, 2006
80 (28x30) cm
China Ink on paper
Apparently changing the subject, Claudia Amandi preserves the gradual sense of abstraction, repeated in a series of drawings with an undetermined amount of marks tending to an undefined horizon. There is the idea of a sign that multiplies itself in variations of density and rarefaction, forming landscapes of an unknown scale. However, the most relevant aspect of this series of drawings is related to the execution characterized by the repetition of small vertical strokes working as points, a movement without declared purpose. Those traits were drawn with a thick marker with black synthetic and opaque ink. In this work, there is a ritual process like brainwashing caused by the accumulation of marks on a surface. It is as if the task of marking the passage of time corresponds to the replacement of consciousness by a thin space of reference words and thoughts. Abstraction takes care of the process, but the set of marks in each drawing and the organization of drawings on the wall evokes landscapes without scale, with changing density, producing an expansion of depth. The long, horizontal format of each drawing stresses the panoramic nature of the pictures. (I)