H x M, 1991
Madeira, ferro, serrim, cartão
A escultura H x M de 1991 prolonga o tema da dualidade e da oposição entre dois corpos. A linguagem desta peça essencialmente metálica é abstrata, estilizada em torno da ideia de caixas, depósitos ou celas. Em H x M a escultura sugere uma máquina disfuncional, pelo tubo e pela superfície perfurada de um dos volumes. Para além das oposições e significados evidentes no plano das oposições de género, H x M consolida uma conceção da escultura como efeito de um projeto ou desenho. As formas são trabalhadas e concebidas como um objeto de design, sem improvisação ou traço pessoal, numa alternativa ao trabalho de desenho, ainda marcado pelo sentido caligráfico. Uma das caixas é parcialmente fechada e apenas permeável por aberturas circulares dispostas num padrão regular e que funciona como contentor de serrim. Desse volume sai um tubo em fole apontado à abertura de outra caixa volume, que parece funcionar como um depósito ou recetáculo de elementos orgânicos em forma de varas, ou tiras, que, na verdade, são barras de ferro marteladas a quente de modo a produzir uma aparência orgânica, usada, irregular. Nesta peça acentua-se a oposição masculino, feminino, fechado, aberto, forte e frágil. Como se os elementos orgânicos fossem produzidos pela caixa maior e projetados no depósito, numa dicotomia entre o passivo e o ativo. H x M é a última peça de um ciclo de teatro de dois personagens, seguido de um novo passo. Nesse contexto havia a ideia da transformação da matéria – as barras orgânicas de ferro transformavam-se em serrim, remetendo para os processos de alquimia ou “transmutação” também próprios à obra de Joseph Beuys, nessa época, uma importante influência de Cláudia Amandi. (I)