Os Países Distantes São Maravilhosos, 2023 Desenho e Projeção de Acetatos Grafite s/ papel, Acetatos, 52 x 74cm, dimensões variáveis
"Os países distantes são maravilhosos” é o título do trabalho constituído por um desenho e uma projeção intercalada de 9 acetatos. Usando um escantilhão, o desenho a grafite, repete uma frase retirada do conto “A Fada Oriana” de Sophia de Mello Breyner e constrói-se na ideia de arrastamento de cada letra. As diferentes intensidades de tom, criam a sensação de um desajuste ótico que, de alguma forma, fragmenta a unidade da frase até ao limite da folha. Esta falta de nitidez do desenho é complementada com a imagem projetada ao seu lado na parede e que vai sendo substituída por outra, ao longo do tempo de exposição. Numa primeira observação interpretamos estas imagens como um conjunto de manchas e linhas. As imagens são fotografias de satélite e mostram atividade militar russa de grande escala na fronteira com a Ucrânia em 2022. São das primeiras imagens que se conhecem dessa altura e que antecedem uma guerra que ainda perdura. No conto de Sophia de Mello Breyner, a frase - “Os países distantes são maravilhosos” - é a primeira fala das andorinhas quando encontram Oriana, que dá início a um pequeno diálogo entusiasmado, descrevendo algumas das coisas que vêm nos países que sobrevoam. Segundo essas descrições, tudo o que veem é maravilhoso. O adjetivo “maravilhoso”, projeta nesses países distantes, a sensação de inúmeras ou incalculáveis qualidades positivas, criando a sensação de beleza, prazer e admiração. Uma espécie de deslumbramento racionalmente inexplicável. Ao longo dos anos, a ideia de espaço, território ou paisagem vai permeando a minha produção e este trabalho está particularmente relacionado com a minha exposição individual mais recente - Auréola (2023). Utilizando outras frases de contos de Sophia de Mello Breyner – como matéria ou título, os desenhos vão-se desenvolvendo entre ecos de repetição da mesma frase, de manchas, linhas e formas que constroem a ideia de um limiar de realidades. Entre imaginação e concreto existe uma linha muito ténue que separa a floresta do abismo. A sua verificação, concretiza-se na produção de um corpo de desenhos e objetos que baralham a ideia de possibilidade e o seu semelhante, de espaço e o seu contrário, de encantamento e deceção. “Os países distantes são maravilhosos” mantém esse limiar em suspensão. Nenhuma categoria é fixa no tempo, nem no espaço e a linguagem, não é exceção.
Cláudia Amandi, 2023
Os Países Distantes São Maravilhosos, Exposição Vozes da Paisagem, Pavilhão de Exposições, Faculdade Belas Artes da Universidade do Porto, dezembro, 2023, Comissariada por Pedro Maia.
Distant Countries are Wonderful, 2023 Drawing and Projection Grafite on paper, acetates, 52 x 74cm, variable dimensions
"Distant countries are wonderful" is the title of the work, consisting of a drawing and an interspersed projection of 9 acetates. Using a lettering guide ruler, the graphite drawing repeats a phrase taken from the short story "The Fairy Oriana" by Sophia de Mello Breyner and is built on the idea of drawing each letter. The different intensities of tone create the sensation of an optical divergence that somehow fragments the unity of the sentence to the edge of the page. This lack of sharpness of the drawing is complemented by the image projected next to it on the wall and that is replaced by another over the time of the exhibition. At first sight, we interpret these images as a set of spots and lines. The images are satellite photographs and show large-scale Russian military activity on the border with Ukraine in 2022. They are some of the first known images from that time and that precede a war that still lasts. According to these descriptions, everything they see is wonderful. The adjective "wonderful" projects in these distant countries the sensation of innumerable or incalculable positive qualities, creating the sensation of beauty, pleasure and admiration. A kind of dazzle, without reasonable explanation. Over the years, the idea of space, territory or landscape has permeated my production and this work is particularly related to my most recent solo exhibition - "Auréola" (2023). Using other phrases from Sophia de Mello Breyner's short stories – as a subject or title, the drawings are developed between echoes of repetition of the same phrase, of stains, lines and shapes that build the idea of a threshold of realities. Between imagination and concrete, there is a very fine line that separates the forest from the abyss. Its verification takes place in the production of a body of drawings and objects that shuffle the idea of possibility and its like, of space and its opposite, of enchantment and disappointment." Distant countries are wonderful" keeps this threshold in suspense. No category is fixed in time or space, and language is no exception.