Quanto tempo dura o conforto da tua dor?, 2001 Marquesas hospitalares, agulhas 3 (70 x 30 x 40 cm)
For how long lasts the comfort of your pain?, 2001 Hospital beds and needles 3 (70 x 30 x 40 cm)
A escultura Quanto tempo dura o conforto da tua dor? Resulta de um convite para a exposição “Os Outros em Eu” organizada pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) no âmbito das atividades do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, sendo exposta no espaço do Tribunal da Relação do Porto em 2001.
A proposta desta escultura é ambiciosa pela escala e pela sua dimensão construtiva. Três marquesas hospitalares serviram de suporte a um vasto número de agulhas espetadas em séries de linhas, evocando um trabalho meticuloso, dedicado e persistente. Esse gesto repetitivo, que posteriormente se tornou uma marca do trabalho de Cláudia Amandi, é denotativo de um estado mental concentrado numa espécie de transe e esvaziamento da consciência, como se o cérebro fosse desocupado de qualquer memória, identidade ou vontade própria. A repetição e monotonia do processo transformam o tempo e a duração numa imagem fixa e constante que conduz o esforço inicial a uma habituação e aceitação. Vários dias foram necessários para espetar os milhares de agulhas, nesse ritual de entrega e abnegação como um gesto sacrificial. Como veremos em trabalhos seguintes, o processo de repetição transforma-se numa imagem extensa de marcas, sinais, pontos ou linhas, na criação de uma superfície que se instala como presença imersiva.
O espaço de agulhas espetadas forma uma textura espacial como um manto de elementos que modelam a superfície com pequenas variações de altura, sugerindo desse modo, um relevo topográfico transparente, entre a materialidade do processo construtivo e a desmaterialização de um corpo implícito, tornado invisível.
O processo de elaboração da escultura aproxima-se do sentido de sacrifício também inscrito no título, na ação de espetar e no sofrimento implícito na dor provocado pela agulha e na referência à condição de internamento hospitalar presente nos objetos das marquesas. Esses objetos cumprem metaforicamente o papel do próprio corpo, representando por metonímia a sua presença agora diluída numa paisagem de agulhas, como a topografia de um território de desmaterialização pela dor, doença ou morte. Mas é nessa paisagem horizontal, uniforme e marcada por suaves vibrações topográficas que a dor, doença ou sacrifício adquirem uma qualidade apaziguadora, serena e efetivamente transitória. Uma passagem, portanto, para um estado de aceitação da dor como conforto e esquecimento, sublinhado pela horizontalidade que sugere o sono e a espera.
O tema da dor e da duração é construído pela sequência linear das marquesas na extensão horizontal, e também, como referido no princípio, pela construção demorada, lenta e paciente da obra. Uma duração que conduz a uma forma de anestesia mental e sensorial. Como efeito. Quanto tempo dura o conforto da tua dor? Resulta num trabalho que evidencia a duração como sensorialidade, envolvendo o espectador na sua presença hipnótica e afirmativa.
The sculpture "For How long lasts the comfort of your pain?" Is the result of an invitation for the exhibition "The Other in Me" organized by the Institute of Molecular Pathology and Immunology of the University of Porto (IPATIMUP) included in activities of Porto 2001, European Capital of culture, and was exposed in the space of the Court of Porto in 2001. The proposal of this sculpture is ambitious for the scale and for its constructive dimension. Three hospital beds served to support a vast number of needles stuck in lines, evoking meticulous work, dedicated and persistent. This repetitive gesture, which later became a hallmark of the work of Claudia Amandi, reveals a kind of trance and emptying of consciousness as if the brain was vacant of any memory, identity, or free will. The repetition and monotony of the process turn the time and the duration into a fixed and constant image that drives the initial effort into habituation and acceptance. Several days were needed to stick the thousands of needles, this ritual, and self-denial as a sacrificial gesture. As we shall see in the following works, the process of repetition becomes a large image of brands, signs, points, or lines, creating a surface that installs as an immersive presence. The needles form a space texture like a cloak of elements that shape the surface with small variations in height, suggesting a clear topographical relief between the materiality of the construction process and the dematerialization of an implicit body, becoming invisible.
The process of work is close to the sense of sacrifice also inscribed in the title, the action of the stick and the suffering caused by the pain implicit in the needle and in reference to some clinical condition, stay present in the objects of the beds. These elements meet metaphorically the role of the self, representing by metonymy a presence now diluted in a landscape of needles, as the topography of dematerialization of pain, illness or death. But in this horizontal landscape, uniform and marked by soft vibrations, the pain, or sacrifice acquire a calming quality, serene and transitory. A path to a state of acceptance of pain as comfort and oblivion, underlined by the horizontality that suggests sleep and wait.
The topic of pain and duration is constructed by the linear sequence of the beds in horizontal extension, and also, as mentioned in the beginning, the construction time-consuming, slow and patient work. A duration that leads to a form of mental and sensory anesthesia. As a result, "How long lasts the comfort of your pain?" results in a work that highlights the duration as sensuality, involving the viewer in his hypnotic and affirmative presence. (+)