Exposição "Material de Trabalho", Projecto Risco Tudo, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Janeiro, 2022. Curadoria de José Maria Lopes e José Manuel Barbosa,
"Working Material", Exhibition in Oporto University Faculty of Architecture, January 2022, "Risco Tudo Project", curated by José Maria Lopes and José Manuel Barbosa.
Janeiro, 2022. Curadoria de José Maria Lopes e José Manuel Barbosa,
"Working Material", Exhibition in Oporto University Faculty of Architecture, January 2022, "Risco Tudo Project", curated by José Maria Lopes and José Manuel Barbosa.
Cláudia Amandi apresenta nesta exposição “Material de Trabalho” uma versão atualizada da exposição que realizou em março de 2020 intitulada “Parede de Trabalho” no Estúdio UM, Escola de Arquitetura da Universidade do Minho. Em ambos os casos, expõem-se os diversos elementos que servem de ambiente visual e material no processo criativo, ou seja, desenhos e apontamentos, fotografias, recortes, textos e objetos. Esses elementos são temporariamente dispostos na parede do estúdio de Cláudia Amandi, em cadernos e arquivos e vão sendo substituídos e mudando de lugar. Esta prática do uso da parede e do caderno de trabalho é comum na atividade artística. Ilustra a movimentação de imagens e ideias durante um período de preparação de conjuntos mais formalizados e acabados. Essa movimentação ou fluxo segue forças e critérios que poderão ser tão evidentes quanto incertos ou ocultos. Se por um lado parece lógico ou natural a repetição e transformação de núcleos formais mais definidos, por outro, o desenvolvimento de cada série depara-se com associações e relações que nem sempre são claras, até para o próprio artista. Nesse sentido, a proliferação destes materiais e imagens, bem como as suas forças associativas e afinidades, poderão ser reveladoras do processo mental durante o ato criativo. Não é o pensamento ou a deliberação que define o curso das ideias, mas antes uma interação entre um plano mental e o plano físico das diversas superfícies que preenchem o espaço de trabalho: paredes e páginas de cadernos são processos especulativos. Os acidentes e associações involuntárias, as vizinhanças inusitadas ou as coincidências imprevistas surgem como circunstâncias que promovem novas ideias. Por outro lado, este fluxo de elementos ora dispersos, ora em associação, funciona como um movimento circular onde cada ciclo renova e recupera soluções antigas, ou abandona temporariamente certas formas, que poderão ser retomadas mais tarde. A sua colocação em suportes como a parede convida à ideia de deslocação ou recolocação e substituição. Essa mobilidade é essencial para que cada desenho ou imagem se possa transformar pela proximidade com outra imagem, ou que um novo arranjo possa testar uma sugestão imaginada mentalmente. A Parede de Trabalho funciona como um plano onde as imagens se apresentam em simultâneo sem uma determinação cronológica ou temporal. A sua lógica é associativa e multidirecional, permitindo mudanças a qualquer momento. Os Cadernos funcionam por ordem temporal, onde a cada página se sucede outra sendo observada isoladamente. A Parede de Trabalho é um espaço físico e real atuando em relação à imaginação visual, mas também mimetiza o próprio processo de associação e geração de ideias. A sua plasticidade, imediatismo, espontaneidade e adaptabilidade são adequados à fugacidade dos pensamentos. Mas a sua objetividade física permite fixar e formalizar a existência de ideias e conceitos visuais. Nesse sentido, a um clima de devaneio e imprecisão sucede-se uma ação resolutiva onde se passa a uma síntese, que será o trabalho final, normalmente tornado público. Cadernos e Paredes de trabalho são assim, testemunhos e ferramentas dos bastidores do processo construtivo. Algo que não é necessariamente secreto ou oculto, mas que mesmo na sua visibilidade e presença, se reserva e mantém intactos os espaços em aberto do ato criativo. Paulo Freire de Almeida |
I
n this exhibition "Working Material" Cláudia Amandi presents an updated version of the exhibition held in March 2020 entitled "Parede de Trabalho" / Working Wall, at Estúdio UM, School of Architecture of the University of Minho. In both cases, the various elements inside the creative process, are exposed, such as drawings and notes, photographs, clippings, texts, and objects. These elements are temporarily arranged on the wall of Cláudia Amandi's studio, in notebooks and archives, being replaced and moved through the process. This practice of the use of the wall and workbook is common in artistic activity. Illustrates the movement of images and ideas during a period of preparation for more formalized and finished works. This stream of materials follows forces and criteria that may be both self-evident and uncertain or hidden. If, on the one hand, it seems logical or natural to repeat and transform more defined formal cores. On the other hand, the development of each series is faced with associations and relationships that are not always clear, even for the artist himself. In this sense, the proliferation of these materials and images, as well as their associative forces and affinities, may reveal the mental process during the creative act. It is pure deliberation that defines the course of ideas, but rather an interaction between a mental plane and the physical plane of the various surfaces that fill the workspace: walls and pages of notebooks are speculative processes. Accidents and involuntary associations, unusual neighborhoods or unforeseen coincidences emerge as circumstances that promote new ideas and visions. Otherwise, this flow of elements now dispersed, sometimes in association, functions as a circular movement, where each cycle renews and recovers old solutions, or temporarily abandons certain forms, which may be resumed later. Its placement on supports, such as the wall, invites the idea of dislocation or replacement. This mobility is essential, so that each drawing or image can be transformed by proximity to another image, or that a new arrangement can test a mentally imagined suggestion. The Working Wall acts as a plane where images present simultaneously without a chronological or temporal determination. The logic behind the operations is associative and multidirectional, allowing changes at any time. Differently, the Notebooks function in temporal order, where each page succeeds another, observed isolated. Working Wall is a physical and real space that acts in relation to the visual imagination but also mimesis the process of association and generation of ideas. Its plasticity, immediacy, spontaneity, and adaptability are adequate to the fugacity of thoughts. But its physical objectivity allows fixing and formalizing the existence of visual ideas and concepts. In this sense, a climate of reverie and inaccuracy follows a resolute action where a synthesis takes place, which will be the final work, usually made public. Notebooks and Working Walls are testimonies and tools behind the scenes of the constructive process. Something that is not necessarily secret or hidden, but that, even in its visibility and presence, reserves and keeps intact the open spaces of the creative act. (I) Paulo Freire de Almeida |