Mapa de Memória,2001 Grafite e alfinetes sobre papel
Memory Map, 2001 Graphite and needles on paper
Na sequência dos trabalhos realizados com alfinetes, Mapa de Memória marca o regresso à bidimensionalidade ou mais concretamente ao suporte de parede, mantendo, no entanto, a linha de continuidade recorrente entre desenho e escultura. As superfícies de grande dimensão mostram imagens ou secções da imagem de cérebros. Reúnem-se assim dois temas anteriores, associando o conceito da mente e dos significados associados ao cérebro – espírito, personalidade, ideia, pensamento, emoções – com a condição corporal e física implícita na materialidade e sensorial evocada pelos alfinetes.
A iconografia remete também, tal como o título, para o sentido da cartografia, da identificação de lugares, para a possibilidade de orientação, sublinhado pela presença dos alfinetes que assumem um valor de marcação do espaço. Com efeito, estas imagens apresentam-se como hipótese de utensílio para uma indicar sentidos e percursos na mesma medida em que simula uma espécie de labirinto formal sugerido pela imensidão de alfinetes, pelos recortes irregulares das configurações, pelo carácter mutável das secções do cérebro. As diferentes camadas ou secções da imagem dos cérebros evoca territórios e configurações topográficas como hipótese de representação de um espaço mental, formado pela identidade, memórias e consciência. Mais do que servir de orientação, estas imagens impõem-se como muros onde se anuncia uma necessidade e simultaneamente a dificuldade de orientação ou navegação por um espaço mental e existencial da memória.
Desenvolvida entre 2001 e 2003, esta série irá aprofundar o uso de processos repetitivos e à acumulação de materiais, compondo a ordem paradoxal onde a escala e a densidade parecem construir o infinito desocupado e imaterial. Estas qualidades formais e espaciais anunciam a opção pela depuração e por uma abstração das formas, alternando imagens e esculturas com recortes figurativos e superfícies aparentemente homogéneas compostas por materiais.
Mapa de Memória absorve assim reminiscências de trabalhos anteriores, servindo de ponto de partida para uma fase mais abstrata e expansiva no percurso de Cláudia Amandi no sentido da depuração e da maior determinação em articular presença e ausência, cheios e vazios.
Memory Map is the return to a surface, or a wall piece, keeping the relationship between drawing and sculpture. Big surfaces show pictures of of brain scans, reworked with needles. Like in other works, there is a connection between the mind – spirit, personality, idea, thought, emotion – and the bodily and physical dimension of the brain, expressed by the material presence of the needles. Iconography and title also call to the sense of map and orientation. These pictures are like tools for finding places and paths, showing a labyrinth in the web of needles, irregular shapes, and the changing layers of the brain. These slices create a topographical sense of the brain as a depiction of conscience, with self-identity and memory. More than a tool, these pictures are like walls announcing a need and a difficulty for orientation and navigation. Done between 2001 and 2003, this series will deepen the use of repetitive processes and the accumulation of materials, composing an order where scale and density seem to show an immaterial void. These formal qualities express a taste for purity and abstraction. Memory Map closes references from early works, as a new starting point to a more abstract and expansive language, in direction to a relation between presença and absence, emptiness and fullness. (I)