Restos, 2006 Papeis cortados à máquina, 35 (24 x 30 cm) No contexto do tema da fugacidade da memória e atualizando as estratégias formais, Cláudia Amandi desenvolve o tema dos trabalhos anteriores num tratamento abstratizante e objetual, integrando a execução como metáfora dos processos mentais. Cláudia Amandi recolheu todos os papeis pessoais que se acumulam nas gavetas e arquivos, tais como contas, recibos e correspondência dos bancos, seguradoras. Pressupondo que esses documentos correspondiam em certa medida a um período da vida, Cláudia Amandi colocou-os numa trituradora de papel e do amontoado indistinto de tiras, construiu superfícies de restos de papel dispostas em quadros devidamente encaixilhados, dando ao caixilho e vidro uma função de contentor. Tratam-se assim de objetos de contenção da memória, transfigurando e subvertendo a ideia de arquivo. As diferenças de cor, tonalidade e textura conferem, no entanto, a cada quadro manchas visuais distintas e individuais como sombras de memórias ou imagens desfocadas e fragmentadas. De modo semelhante aos trabalhos anteriores, Cláudia Amandi procura visualizar ou encontrar formas para as dinâmicas do pensamento e da memória, especialmente no plano da passagem e fugacidade ou imaterialidade dos atos mentais. Nesse sentido, os desenhos, ou neste caso “construções”, funcionam como objetos a responder pela atividade mental, não apenas como consequências de um processo criativo, mas como hipóteses de formalizar a elaboração invisível da mente. De modo diverso dos trabalhos anteriores, abandona-se aqui a forma figurativa do cérebro ou ideia cartográfica da mente para dar lugar a uma imagem caótica e informal, como uma amálgama de informação, na maior parte dos casos irrelevante, ilegível, irrecuperável, que se amontoa desfocando qualquer recordação válida ou significante. A memória é assim apresentada como uma força destrutiva pela acumulação de detalhes e resíduos contra o significado duradouro de uma recordação importante. Mas, no desenlace desse processo, quando os diferentes “quadros” são dispostos na parede, percebem-se incidências e configurações, como se da névoa surgisse um esboço de uma memória. Na zona central da composição uma mancha forma-se da aparente casualidade, como esforço de reorganização e recuperação de sentido. Com efeito, no interior do caos, esconde-se sempre uma palavra legível e intacta. |
Leftovers, 2006 Shredded paper, 35 (24 x 30 cm) Taking the subject of memory and, using new formal strategies, Cláudia Amandi explores the concept of previous work abstractly and materially, integrating the execution as a metaphor for mental processes. Claudia Amandi collected all personal documents stored in drawers and files, such as bills, receipts, and banks and insurance companies mail. Assuming that these documents correspond to a period of life, Cláudia Amandi put this assorted material in a paper shredder, scrambling the documents in a jumble of fuzzy strips, arranged in frames, like glass containers. All the volume of useless documents became enclosed objects from memory, subverting the concepts of file and archive into a chaotic labyrinth. The differences in colour, tone, and texture, create visual patterns like shadows of memories or blurred and fragmented pictures. Similarly to previous work, Claudia Amandi finds ways to show the dynamics of thought and memory, of the changing and transitory nature of the mental activity. In this sense, the drawings, or, "constructions", function as devices that work as a metaphor for mental activity, not just as a consequence of a creative process, but as a chance to shape the invisible development of memory. But, differently from previous works, this piece leaves the figurative shape of the brain to show a chaotic and informal picture, as a mess of information, in most cases irrelevant, unreadable, and unrecoverable, by blurring any valid memory or significant information. So, memory is presented as a destructive force in its accumulation of details and waste, against the record of important meanings. But, in the outcome of this process, when the different "frames" are arranged on the wall, we may see incidences and clusters, finding some shape emerging from the mist. In each picture, there is a word, legible and intact, ready to be seen. (I) |